EDITORIAL
Se há certeza que podemos ter é de que a corrupção nunca será combatida por aqueles que se propõem fazê-lo sozinhos. Tratando-se de comportamentos desonestos ou ilegais, não se extinguem por decreto nem por discursos empolgantes com que as lideranças políticas gostam de captar a atenção (e o voto!) dos cidadãos. E desengane-se quem pensa o contrário.
Prometer “acabar com a corrupção no nosso país” (ou em qualquer outro) é de tal forma enganoso que nem mesmo quem o garante está capaz de acreditar no que diz. O fenómeno vem da Antiguidade e, desde então, o mundo já viu nascer e morrer gente reconhecidamente muito mais talentosa e séria para abraçar uma missão tão grandiosa. Por isso, quando este ou aquele líder político nos garante que vai acabar com o corrupção, o que verdadeiramente está a fazer é a tentar corromper-nos. Mas não só! Está, também, a iludir-nos, porque aquilo que nos dá em troca do voto não é realizável.
Seja na administração pública, seja no funcionamento dos sistemas político e partidário, a corrupção disseminou-se a tal ponto que já convivemos com ela sem quase darmos conta. Ou, então e pior ainda, tolerámo-la ignorando o mal terrível que cometemos e o miserável exemplo que damos aos nossos filhos.
O que tem de ser combatido é, desde logo, o sentimento de impunidade que grassa por todo o lado e faz com que uma casta de predestinados julgue ser capaz de substituir-se a uma responsabilidade que é de todos. Acreditar que um partido ou um líder pode pôr fim à corrupção não é só uma grande insensatez. É, sobretudo, cair no erro de achar que não somos os principais responsáveis por este estado de coisas e querer que um qualquer ‘virtuoso’ faça o que apenas pode ser conseguido com o empenho de todos.
Alguém algum dia ouviu da boca de um desses sebastianistas de que modo vai pôr fim à corrupção? Pois não!… Mera conversa fiada que apenas serve o propósito de conduzir os cidadãos a transformarem o seu (legítimo) descontentamento em apoios a este ou aquele partido… redentor.
O combate à corrupção não se faz convocando estados de alma. Faz-se apelando a uma maior participação política de todos e através da consciencialização de que, sem uma responsabilidade social colectiva, esta e muitas outras batalhas estarão irremediavelmente perdidas.
E é porque partilhamos esses receios que, a partir de hoje, Barcelos volta a ter um órgão de informação livre. Mas também plural, laico, comprometido com o rigor e sem preconceitos ideológicos ou de qualquer outra espécie. Orientar-nos-emos pela verdade, sem medos ou tibiezas, com a certeza de que temos pela frente um enorme desafio.
Mas este é, também, um desafio de todos. Dos que não toleram a corrupção. Dos que exigem que o dinheiro dos impostos seja gasto de forma adequada e parcimoniosa. Daqueles que querem rigor, equidade e transparência na contratação pública. Dos que repudiam o compadrio, os abusos de poder e a permanência a qualquer preço em lugares-chave da vida pública e política. De quem vê na justiça social, na preservação do meio ambiente e na solidariedade causas que importam defender. Dos que se indignam com o oportunismo, o populismo, a hipocrisia, a desonestidade, a falta de escrúpulos e de ética de quem dirige e toma decisões que afectam a comunidade. E, ainda, daqueles que têm a perfeita noção de que a quebra de confiança nas instituições compromete irremediavelmente a democracia e é uma porta escancarada para a ascensão de extremismos.
Todos estes têm no SETE JORNAL a garantia de que nenhum assunto ficará por tratar e só as restrições de meios (humanos, técnicos ou financeiros) nos impedirão de fazer mais e melhor.
Conscientes das nossas limitações e porque o jornalismo precisa de tempo para investigar, reflectir e contraditar, apostaremos, sobretudo, na qualidade da informação, abrindo mão do imediatismo e de conteúdos em torrente. Por isso mesmo inscrevemos no nosso Estatuto Editorial que temos como propósito combater a desinformação e informar com verdade e imparcialidade os leitores, contribuindo desta forma para difundir e fomentar o espírito de cidadania participativa, alicerçado numa sociedade esclarecida capaz de tomar as decisões que melhor sirvam os seus objectivos.
A diversidade de opinião será outras das marcas do SETE JORNAL. Aos que já estão connosco juntar-se-ão outros cronistas que, de forma descomprometida e abnegada, vão partilhar as suas ideias, experiências e conhecimentos em áreas nas quais estão entre os melhores. O seu sentido crítico e prático associado à competência e independência ajudarão a reforçar o compromisso do SETE JORNAL com o pluralismo e os valores da liberdade de expressão.
Dito isto, Barcelos e a região passam a ter neste projecto editorial controlado exclusivamente por jornalistas um órgão de comunicação social que garantirá informação livre, independente e confiável. Mas esta liberdade tem um preço e do êxito e continuidade do SETE JORNAL dependerão todos os contributos (maiores ou menores, regulares ou pontuais) que cada leitor lhe possa emprestar. E dizêmo-lo porque cremos que o jornalismo pago pelos leitores é a condição essencial para uma imprensa livre, sem amarras, a voz solta de uma sociedade que não se resigna e tão-pouco acredita que poderá deixar nas mãos de alguns ‘profetas’ a resolução de problemas que são de todos e de todos os dias.
Contamos consigo!
P.S. – Embora com um perfil editorial completamente distinto, este projecto marca também o renascimento de um título que saiu pela última vez para as bancas há precisamente 29 anos – foi a 28 de Dezembro de 1994. O Se7e de então era um semanário que se tornou referência pelo seu jornalismo cultural e que teve no escritor Mário Zambujal o primeiro director.
Esta é uma despretensiosa homenagem a todos quantos o serviram.