EDITORIAL
A afirmação fecha a letra da canção Medo do Medo (2012), de Ana Matos Fernandes, ou Capicua, como é conhecida a rapper e letrista portuense. Mais do que um verso que encerra a estrofe, é um grito de independência, um convite à insubmissão dos que encontram na subalternidade a forma de lidar com as dificuldades e os desafios do dia-a-dia. Ignorando, todavia, que outra coisa não fazem se não contribuirem para aprofundar a sua própria miséria.
Foi para reprimir esta perversão cada vez mais enraizada que há um ano fundámos o SETE JORNAL e assumimos de forma clara os nossos objectivos. Comprometemo-nos a pôr em prática um jornalismo que promove a liberdade e a tolerância como princípios que devem orientar a vida democrática num Estado de Direito e que resultam no respeito pelos direitos humanos numa atmosfera de paz, de modo a favorecer o desenvolvimento dos indivíduos e dos seus intentos.
E vincámos também que a independência editorial, a par de uma informação rigorosa e verdadeira, seriam características intrínsecas e inalienáveis deste projecto. Um ano volvido, cremos que os nossos leitores – que são quem melhor pode ajuizá-lo – não deixarão de reconhecer esse compromisso com o rigor, a independência, o pluralismo, a laicidade e o combate à desinformação.
O trajecto é ainda curto, muito curto, mas foi percorrido com passos firmes e que fazem do SETE JORNAL um órgão de comunicação social único no quadro da imprensa regional portuguesa. Daqui partiu a denuncia de um dos maiores casos de violação de dados pessoais de que há registo no País, cuja investigação levou à abertura de um processo de averiguações ao Instituto da Segurança Social.
Foi pelo SETE JORNAL que se conheceram negócios de contornos pouco claros que os investigadores da Operação Teia ignoraram por completo e que dão ao processo uma dimensão ainda maior da rede de influências políticas que, em grande medida, se alimentou de recursos do Município de Barcelos. Os mesmos que a maioria das juntas de freguesia do concelho emprega sem o mínimo de respeito pelo cumprimento das normas de contratação pública, como o comprova uma outra reportagem entre muitas aqui publicadas.
Foi com estes e outros trabalhos que demos forma à causa do jornalismo explicativo e de investigação, com o qual também nos comprometemos e procuramos fornecer conteúdos de alto valor acrescentado aos nossos subscritores. Recusando sempre o imediatismo e assumindo como desígnio o escrutínio dos poderes e a denúncia dos abusos, em particular os de ordem política, judicial ou laboral.
São estes fundamentos que nos norteiam e com os quais continuaremos a construir um jornalismo de referência, livre, no qual quem nos lê seja capaz de identificar, sem mácula, os valores e princípios que regem a profissão. Por isso acompanhámos e votámos firmemente a resolução final saída do 5.º Congresso dos Jornalistas, que teve lugar no início do ano, em Lisboa, na qual se inscreveu que “o jornalismo deve comprometer-se com a defesa da democracia e jamais tratar por igual a verdade e a mentira”.
Este é o nosso caderno de encargos. Exigente, sempre muito exigente, porque, uma vez colocado em prática, depressa aqueles que fazem do medo e da vingança instrumentos recorrentes de subordinação se põem em campo. Sem surpresas, são, muitas vezes, os mesmos que apregoam as virtudes de uma comunicação social forte e independente e, em simultâneo, tudo fazem para a silenciar, ainda que para isso tenham de recorrer a expedientes que ultrapassam os limites da lei e da decência moral.
Estes ataques dissimulados à liberdade de imprensa – que outra coisa não são que uma investida contra o Estado de Direito Democrático – têm nos cidadãos um importante escudo protector. No caso do SETE JORNAL, este combate só tem sido possível graças ao apoio crucial dos subscritores e de um conjunto de mecenas que reconhecem a importância da imprensa livre e independente, guardiã dos valores democráticos e da liberdade de expressão, que luta pela transparência e denuncia a corrupção, os abusos de poder e outros excessos cada vez mais comuns.
No último ano, foram eles quem deu voz a este projecto que procura afrontar o “medo dos tempos” de que fala a canção. E será com eles, assim o queiram, que continuaremos a dar sentido real ao verso de Capicua.