Nos últimos 50 anos, Portugal sofreu grandes transformações nas áreas económica, política e social que o alavancou para mundo, tornando-o reconhecido como um país livre, com identidade própria e respeitado pela comunidade internacional.
Ainda estamos longe…

Os ideais e valores que nortearam a Revolução de Abril de 1974 e que permitiram a democratização e o desenvolvimento do país, a participação no processo político e na vida pública, a expressão livre e o direito à igualdade, independentemente do género, foram conquistas inolvidáveis que desconstruíram um país “orgulhosamente só”.
Não obstante das grandes conquistas de Abril, ainda estamos longe quando nos deparamos com notícias de que em Portugal ocorrem, diariamente, cerca de mil delitos, sendo o crime de violência doméstica o de maior prevalência, particularmente contra mulheres. E, então, ainda estamos longe…
Ainda estamos longe dos valores de cidadania, de respeito pelas escolhas de cada um, pela igualdade e pelo direito de dizer não, que já deveriam de fazer parte de uma sociedade democrática, de cidadãos livres e de pleno direito.
A ocorrência de comportamentos abusivos contra a mulher, reporta-nos para uma sociedade em que o seu papel era definido por normas patriarcais que limitavam a sua condição humana, as suas oportunidades, o acesso à educação, à formação e ao mercado de trabalho, em que a violência doméstica era silenciada e, até mesmo, tolerada.
No entanto, fruto da luta que as mulheres têm travado ao longo dos tempos, as mudanças são significativas, quer em termos legislativos, quer no que respeita a serviços de apoio, sendo a violência doméstica passou, finalmente, a ser considerada um crime público.
Foram os movimentos liderados por mulheres que permitiram a sua participação na política, nos negócios, na cultura e em áreas de liderança, desafiando estereótipos de género e assumindo papéis de destaque na sociedade.
Mas, ainda estamos aquém do almejado, de uma sociedade civilizada que respeite a individualidade de todas e de cada mulher, das suas escolhas e do direito a traçar o seu caminho e a construir a sua própria história, livremente.
No mês da comemoração dos 50 anos da Liberdade, nunca foi tão premente uma reflexão sobre a formação dos jovens. Serão eles os futuros homens e mulheres do amanhã que irão transportar os ideais de Abril para consolidar uma sociedade que se pretende cada vez mais justa e equitativa. É urgente, construir e implementar processos educativos que promovam a capacitação de valores de cidadania, respeito, igualdade, solidariedade e de responsabilidade, valores fundamentais que a Revolução do Cravos nos ofereceu. Compete a todos nós e compete, também, aos decisores fazê-lo.
O conhecimento do 25 de Abril de 1974 não pode ser um mero exercício académico abordado aquando da sua comemoração. Tem de ser significativo, ter intencionalidade, ser discutido e transferido para novas aprendizagens, pois só assim os ideais e a magnitude da sua existência poderão formar, verdadeiramente, homens e mulheres livres. Livres para decidir, para escolher e para participar na vida comum do país, como cidadãos esclarecidos, solidários, responsáveis e interventivos.
Só assim ficaremos mais perto!
*Presidente da direcção da Associação de Pais e Amigos das Crianças (APAC)
Foto: ©PAULO VILA