O Dia Internacional da Mulher de 2024 teve como tema “Investir nas Mulheres: Acelerar o Progresso”. Apesar de em muitos lugares no mundo a mudança se fazer lentamente, noutros, porém, os progressos têm sido grandes e a bom ritmo.
Abril, as Mulheres e a Educação

Hoje, muitas mulheres e homens estão unidos e falam abertamente por todas as mulheres que foram (e ainda são) silenciadas e estigmatizadas. Muitos desses homens e mulheres, que tentam fazer a diferença, são de uma nova geração. Uma nova geração generosa, solidária, criativa, que se tem permitido (re)idealizar economias, sociedades e sistemas políticos promotores dos direitos humanos e concretizadores da igualdade de tratamento e de oportunidades (também de género), desde há muito proclamada.
Apesar dos consideráveis progressos, sobretudo em democracias maduras e sólidas, mesmo nos países mais desenvolvidos, todos reconhecem que há ainda caminho para percorrer no combate a todas as formas de sobranceria, desvalorização ou violência contra mulheres e meninas, mas também no que respeita à igualdade de remuneração, divisão igualitária do trabalho de cuidado e do trabalho doméstico, à participação igualitária na vida política e em funções de liderança – formas discriminatórias muito materializadas na desigualdade do direito de gestão dos tempos pessoal, familiar e profissional.
Nasci em 1977 e, assim, pertenço a uma geração que teve acesso a todas as oportunidades que decorreram do 25 de Abril. Sou de uma geração que, não tendo lutado pela liberdade, usufruiu plenamente dela. Tanto as raparigas como os rapazes. Uma geração que beneficiou das políticas de qualidade e de igualdade que os nossos pais não tiveram mas ajudaram a construir, nomeadamente no ensino. Uma geração plena de direitos e com perspetivas de futuro. Tivemos sonhos e – herança dos nossos pais – tivemos o direito de lutar por eles. Um privilégio!
Embora tenha havido avanços notáveis nas últimas cinco décadas, em Portugal ainda existem assimetrias resultantes de um passado macerado na grande desigualdade.
É verdade que as mulheres ganharam competitividade, através de mais escolaridade, formação e experiência. Talvez a maioria tenha, nos dias de hoje, “bons maridos” que as “ajudam” nas tarefas domésticas e com os miúdos. Ajudam! É isso! Mas, ainda assim, na esmagadora maioria dos casos, ainda são elas que organizam a dinâmica, horários e logística familiar, que têm maior dificuldade em conciliar trabalho e família e menores oportunidades de partilhas sociais.
Mesmo quando desempenham a mesma função, é incomparável o número de faltas ao trabalho para assistência a familiares entre eles e elas. Não raras vezes, são as mulheres que sofrem uma pressão e julgamento social inquietantes para serem exemplares em todos os planos das suas vidas: profissionais diligentes, mães dedicadas, filhas extremosas, amigas disponíveis, companheiras/esposas afetuosas, boas donas-de-casa e, como não podia deixar de ser, sempre com uma imagem briosa e cuidada. Ufa!!!
Isto significa que o progresso dos próximos anos não poderá ser da mesma natureza do progresso que vivemos nos últimos 50. Não poderá ser feito pela força da lei. Hoje, por exemplo, as mulheres têm mais participação política porque existiu uma lei que o impôs. A sociedade será melhor quando a lei não for necessária. Acontece que as mentalidades não se mudam por decreto, mas com Educação. A de casa e a da escola. E não será fácil. Até porque os próximos tempos nos trazem desafios a esta igualdade plena.
Apesar de rapazes e raparigas terem hoje o mesmo acesso ao ensino superior (elas em maioria e até com melhores classificações), não é já novidade que, hoje, e sem tendência a alterar, há mais jovens enfermeiras, médicas, professoras e educadoras. Por outro lado, nas ditas áreas emergentes (e mais bem remuneradas), como áreas tecnológicas e digitais, ou da Inteligência Artificial, por exemplo, há pouquíssimas mulheres. À mulher continua a caber mais o cuidado social e da educação e ao homem a produção, o desenvolvimento económico e a mais alta representação política. Isto deve ser refletido pela sociologia e pela educação. Haverá, de facto, tendência natural? Ou será a educação desde a nascença que assim determina?
O que é facto é que haverá, a curto prazo, uma nova geração com homens com rendimentos elevados, a ocuparem cargos importantes em grandes empresas (tal como hoje), e trabalhadores da função pública maioritariamente do sexo feminino e, consequentemente, com menos perspetiva de desenvolvimento de carreira e evolução salarial.
Claro que as mudanças não acontecem de um dia para o outro, principalmente estas que são culturais e sociais. Sabemos que parte das desigualdades começa em casa, mas é a Escola que tem o dever de nivelar as assimetrias (e nivelá-las por cima!), através do ensino, da aprendizagem, da cultura e do conhecimento. Todos, meninas e meninos, têm que ter o mesmo acesso e os mesmos direitos a serem o que quiserem ser. E a sonhar!
Talvez com algum otimismo, acredito que não serão necessários mais 50 anos para a concretização do tanto que ainda falta.
*Vereadora na Câmara Municipal de Barcelos com os pelouros da Educação, Juventude, Recursos Humanos e Modernização Administrativa e Inovação.
Foto: ©DR