Cinquenta anos volvidos sobre o “dia inicial inteiro e limpo” celebrado por Sophia de Mello Breyner, muito é o que há ainda para cumprir – se não já, em alguns casos, para recuperar, porque entretanto se perdeu. E lembrá-lo será o melhor tributo que se pode prestar à liberdade e àqueles que se bateram por ela e pelos valores da democracia.
A ideia de igualdade entre homens e mulheres, por exemplo, não passa de um eufemismo que mais do que enfeitar discursos políticos, serve para disfarçar o que se é intrinsecamente incapaz de assumir. O regime mudou, mas uma parte considerável da sociedade mantêm-nas presas a um espartilho do qual só a muito custo se conseguem libertar.
E o que de bom a escola há-de ter feito para esbater esta desigualdade, em muitos casos perdeu-se pelos maus exemplos que o preconceito e o conservadorismo familiar transmitem aos mais jovens. E o quanto, infelizmente, isto continua a ser válido para tantas outras coisas. Tão válido que saltam da mesa do jantar para as páginas de livros que pensávamos já não existirem razões para serem escritos. Mas, com efeito, eles estão aí e com honras de terem como autores alguns daqueles mesmos que, não tem muitos anos, juraram combater as desigualdades de género.
Nestas comemorações, o SETE JORNAL quis assinalar simbolicamente essas discrepâncias convidando apenas mulheres para falarem sobre si, sobre a condição feminina, sobre como viveram Abril e como gostariam que ele tivesse sido concretizado neste meio século de tantas expectativas goradas. Sem deixarem de reconhecer os avanços trazidos pela Revolução, estão ali as alegrias, as ambições, as angústias, os receios e as desilusões. Mas está, sobretudo, a certeza de que a educação tem neste processo um papel determinante a desempenhar na construção de uma sociedade mais inclusiva, justa, igualitária, tolerante e comprometida com os desígnios de Abril.
A todas, a direcção do SETE JORNAL endereça-lhes um agradecimento especial pela colaboração generosa que emprestaram a esta iniciativa.
Todos os textos são de acesso livre e podem ser lidos AQUI, a partir das 8h00 do dia 25 de Abril.